domingo, 25 de agosto de 2013

The Newsroom e o jornalismo

The Newsroom é uma série que acompanha os bastidores de um programa de notícias apresentado por Will McAvoy. Interpretado por Jeff Daniels, o Debi de Debi & Lóide (sério), Will é um âncora extremamente arrogante e, contraditoriamente, muito inseguro. Quando uma antiga companheira, McKenzie, volta a fazer parte de sua vida, ele se vê desafiado a sair de uma situação confortável para assumir riscos em nome de uma boa causa.

A série aborda o dia-a-dia da redação de notícias e as relações entre os integrantes da equipe desse programa fictício, usando como pano de fundo acontecimentos reais para desenvolver todo o drama entre os personagens. Um esquema tipo Titanic. O elenco conta também com Emily Mortimer, Dev Patel (mais conhecido como "o menino de Quem quer ser um milionário?"), a simpática Olivia Munn e o carismático Sam Waterston e seu aparente Parkinson seletivo na cabeça.

Com um delay de aproximadamente dois anos entre o ano em que se passa a série e o presente, os roteiristas têm tempo de escolher bem e tratar dos assuntos mais polêmicos de um passado recente. Um derramamento gigante de óleo no oceano, ataques de drones no Oriente Médio, a morte de Bin Laden (ou “morte”, para alguns), a morte de Trayvon Martin por George Zimmerman, o Tea Party, a homofobia, a laicidade do Estado e muitos comentários absurdos feitos por políticos em campanhas, discursos, etc. Enfim, um prato cheio para um pessoal que acha que algumas bizarrices são exclusivas do Brasil e que tudo nos Estados Unidos é lindo e maravilhoso. E tem algo de fascinante em acompanhar as reações desses personagens enquanto eles se tornam cientes de acontecimentos importantíssimos dos quais o espectador já tem conhecimento; a busca por diferentes fontes, a confirmação de histórias, a excitação e o espanto com um furo de reportagem. É como assistir novamente a um filme acompanhado de amigos que nunca o viram e ficar observando as reações deles.

Mais recentemente, o movimento Occupy Wall Street começou a ser abordado em The Newsroom, e é interessante notar as semelhanças que a onda recente de protestos no Brasil tem com esse movimento. Toquei nesse ponto porque não tem como pensar nos protestos sem pensar no papel que a mídia tem (ou deveria ter) nisso tudo, e é aqui que reside a força da série e minha admiração por ela.

Acima de tudo, o destaque de The Newsroom fica por conta da ideologia de um jornalismo que não se vê por aí, quase utópico. O objetivo dessa equipe é reportar fatos e analisá-los sob todos os aspectos, prestar um serviço público e proteger os interesses do povo, independentemente dos próprios interesses e de interesses políticos ou corporativos. É tocar na ferida e dar tapa na cara de muita gente, sem cerimônias. A vontade que esses personagens demonstram, o caráter, o compromisso com a verdade, seja ela qual for, são realmente inspiradores. Ainda mais quando se vê a parcialidade escancarada de tantos veículos de grande alcance.

Together they stand aloneDiz muito, não?

E se já é um sonho infantil querer uma série brasileira de qualidade que faça o mesmo com acontecimentos locais, nem sei do que chamar o desejo de ter um jornalismo desse nível na nossa tão manipuladora mídia.

Desculpa, mas esse é o verdadeiro

Eu nunca consegui

Minha suja contribuição para o meme one does not simply.

sábado, 10 de agosto de 2013

A mão da espada

Já tem algum tempo que eu tenho um convênio médico. E já tinha algum tempo que eu — preguiçoso e grande defensor da ideia de que “quem procura, acha” — não fazia qualquer uso desse convênio, nem mesmo para exames preventivos. Oras, vai que o médico, ouvindo meu coração com o estetoscópio, vira e fala que tem um tumor gigante na minha cabeça? E que a forma de tratamento é amputar minha perna esquerda e esperar que ele escorra pelo buraco que ficar? Que meu cérebro é na verdade apenas 5% cérebro e 95% tumor? Ok, pelo menos isso explicaria bastante coisa...

Mas não tem problema, porque a vida achou que era muito dinheiro jogado fora e deu um jeito de fazer com que eu aproveitasse o convênio de algum jeito. Ela resolveu que eu ia quebrar um osso da mão jogando futebol cunzamigo. E não digo isso para pagar de o fodão que masculamente se machucou jogando bola, e que com muito orgulho superou a dor e continuou a partida, merecidamente recebendo uma medalha de “honra ao mérito” que custa um real e de ouro só tem a cor, com trompetes tocando ao fundo.

Não. Estou falando do cara que é considerado o “café com leite”; o “teleton”, se preferir. Do cara que sabe que os menos habilidosos que possuem o mínimo de sensatez devem ser goleiros durante a maior parte do jogo, esperando até que os outros se cansem e estejam com os pés cheios de bolhas para, aí sim, se arriscar a ir para a linha e tentar marcar seu golzinho. Estou falando do cara que descobriu que a conta chute forte + goleiro que vai na bola com mão de alface = encostar o dedão direito na parte de trás do pulso direito. Dando um significado todo novo à pergunta que já ouvi de alguns professores que não gostavam de calculadora na faculdade: “Puxa, mas vai te quebrar a mão se você resolver essa equação sozinho?”. Sim.

Quando ficaram sabendo qual osso quebrei, ouvi de três médicos diferentes e da minha avó (que já foi enfermeira) quase que invariavelmente a mesma frase: “Tanto osso no corpo para quebrar e você vai quebrar logo esse?”. Sabe por que falaram isso? Porque é o pior osso para se quebrar no corpo, e é bem comum precisar de cirurgia. E o malandrinho costuma precisar de umas boas 10 semanas imobilizado para se curar. Estou há duas semanas com o gesso; só faltam DOIS MESES.

Sabe o que significa ficar sem poder usar a mão direita por dois meses e meio? Sendo destro? Poxa, é a mão da espada, como diria Jamie Lannister. Significa que eu não consigo fazer nada direito. Significa usar a mão esquerda para o mouse E para digitar, o que desacelera “um pouco” a produtividade no trabalho. Significa que levo o triplo de tempo para digitar e tenho que escolher bem o que vale a pena postar (e o fato de que este post foi publicado diz algo sobre o meu conceito de “valer a pena”). Significa que eu não consigo sequer assinar meu nome, porque não tinha ideia que a esquerda era tão imprestável assim (não que eu escreva muito com caneta ou lápis; uso o Word até mesmo para anotar recados de telefone, mas seria bom ter a possibilidade).

Significa que a caceta desse gesso vai assistir comigo à última temporada inteira de Breaking Bad, que nem começou ainda. Significa também ficar dois meses e meio sem envolver minha genitália com a mão que vem sendo aperfeiçoada na tarefa durante toda minha vida (seu recalque bate na minha mão e quebra meu osso na tela do computador e volta na sua cara). Significa não conseguir me limpar direito. Significa tomar banho por dois meses e meio sem nunca ficar de fato limpo, porque enquanto se lava o resto do corpo, o braço e a mão do sujeito que sofre de hiperidrose ficam confinados numa toalha e num saco plástico, e à altura em que termino, o aroma resultante da “sauna localizada” faz com que eu me arrependa de ter ido para o banho para início de conversa. Em noites frias, significa ficar com a sensação de se estar com o antebraço mergulhado numa piscina fria, ou de se estar pescando no gelo usando a mão (eu imaginei que o gesso ajudaria a aquecer por cobrir a pele, mas o safadinho é bem frio e aparentemente é imune a roupas de frio e cobertores). Significa ficar com o dedão imobilizado na posição de joia durante um bom tempo. Por dois meses e meio, aparentemente tudo estará ok para mim.


Eis como me sinto.

Só agora percebo como tudo era ótimo antes de isso acontecer. Mas detesto todo aquele papo de que não se deve reclamar quando tem gente numa situação pior que a sua (vi um cara no hospital que cortou fora três dedos numa máquina de fazer caldo de cana; receita nova, pelo jeito). Até porque seguindo esse raciocínio, apenas uma pessoa no planeta poderia reclamar da vida, que seria a pessoa na pior situação possível. Alguém que perdeu um braço não pode reclamar porque outro alguém perdeu os dois, e o que perdeu os dois não pode reclamar porque um terceiro alguém nasceu com quatro e não consegue usar nenhum... e assim por diante até chegarmos à pessoa mais ferrada, a única que pode reclamar, que provavelmente é alguém que mora na Índia ou algo assim.

Se tem uma coisa que nunca se esquece é o nome de um osso que se quebra. O nome desse é escafoide.
É... fodeu mesmo. (Péssimo trocadilho, eu sei, mas aposto que você também faria. E outra, me dá um desconto vai, afinal não sei se já falei, mas eu quebrei um osso.)