Entrou
em casa e largou suas coisas numa poltrona, avisando em voz alta que havia chegado. Sem
ouvir resposta, foi até a cozinha lavar as mãos. Pela janela em cima da pia,
ele a viu no alto da pequena colina próxima, olhando pensativamente para as
estrelas. Saiu para a noite clara pela porta dos fundos e atravessou o gramado. Subiu
calmamente a colina e parou ao lado dela.
— Ficou
sabendo da descoberta de hoje? — perguntou ela tranquilamente, sem tirar os
olhos do céu.
— Do
planeta? Fiquei, sim. Praticamente do mesmo tamanho do nosso, está na zona
habitável de sua estrela e possui água no estado líquido. Excitante, não?
Ela
virou para olhá-lo e sentiu um calor no peito ao vê-lo com um sorriso acolhedor
no rosto.
—
Pena que esteja tão longe. Qual a distância mesmo? — perguntou ele.
—
Não lembro exatamente, sei apenas que uma simples troca de mensagens levaria milhares de anos para acontecer. Se houver vida inteligente, claro —
adicionou rapidamente, falhando miseravelmente na tentativa de parecer
ponderada.
— Tarefa
para nossos descendentes, então — disse ele, acariciando a barriga
dela.
— Ainda
assim, na escala astronômica, a distância é ridiculamente pequena. Já imaginou?
Vida na nossa galáxia. — Ela voltou a olhar para o céu e ele pôde ver o brilho em seus
olhos. — Não num lugar longínquo do Universo, na nossa galáxia! No
nosso “quintal”. Se a vida (mesmo com centenas de bilhões de galáxias, cada uma
com centenas de bilhões de estrelas, que por sua vez possuem sabe-se lá quantos
planetas em suas órbitas) achar por bem aparecer num planeta vizinho ao nosso, seria
seguro supor que o Universo inteiro esteja transbordando de vida! Em todos os
cantos e de todas as formas. Uma expansão gigantesca dos nossos horizontes. Imagine as diferentes culturas, as
diferentes crenças, as histórias das civilizações, as espécies e anatomias, as
línguas, as guerras e sistemas políticos, o desenvolvimento científico e
tecnológico, as invenções, os bons e maus momentos, os heróis e os vilões, os
artistas e as obras.
— Nem
me fale, querida. Ainda tenho uma infinidade de livros para ler que foram escritos
por aqui mesmo e você aí querendo aumentar a lista indefinidamente.
—
Besta — disse, rindo. Ela baixou os olhos para o chão e subitamente ficou séria,
esforçando-se para acreditar em suas próximas palavras: — Tenho certeza de
que alguém em algum lugar do Universo está neste momento olhando para as estrelas e pensando exatamente
nas mesmas coisas.
Mas
ela não tinha. Como poderia quando o Universo respondia apenas com o silêncio? Continuou
olhando para baixo e se deixou tomar pela ideia da solidão e do vazio cercando-os. Percebendo seu
conflito interno, ele logo tratou de distraí-la.
—
Olha que bonito, amor. Whovian e Trekker já estão se pondo — disse ele, apontando
para o horizonte.
A
noite foi ficando mais escura e uma brisa começou a soprar. Ainda no alto da colina, os dois
entrelaçaram suas caudas carinhosamente e observaram em silêncio as duas luas tocarem o horizonte e desaparecerem sob ele.
Devia escrever um livro! Muito bom!
ResponderExcluirLivro? Quem me dera. Talvez bem mais pra frente. =)
ExcluirObrigado, Reinaldo! Fico feliz que tenha gostado.